O panelaço

quinta-feira, 27 de março de 2008


Nós voltamos de Mendoza cheios de idéias e novidades sobre a viagem pra poder reativar o nosso blog tão esquecidinho. Mas já no caminho descobrimos que nesse momento não dá pra escrever de outra coisa que não seja o problema do campo. Saindo de Mendoza o motorista do ônibus avisou que ia precisar tomar estradas alternativas por causa das manifestações dos ruralistas e que a viagem, que inicialmente duraria 13 horas, não tinha mais previsão de horário. E lá fomos nós, 17 horas na estrada, com cortinas fechadas "porque os manifestantes estão jogando pedras". Mas não houve nenhum problema no caminho, além da demora, claro, e chegamos em Buenos Aires com a sensação de que os protestos eram bem menores que as notícias.

Aí ouvimos o panelaço. Eu, com minha alma de Del Castilho, achei que era um vizinho inconveniente fazendo um barulho infernal e já queria armar um barraco. Me contentei em fechar a porta da cozinha, mas aí o barulho já vinha de todos os lados. De cima, dos prédios vizinhos, do kiosqueiro da frente, todo mundo batendo panela, tupperware, colher, tocando sino, apito, qualquer coisa estava valendo.

E assim segue, por 3 dias. Por volta das oito da noite começam os protestos e já se pode ouvir panelaços de todos os lados da cidade. Hoje, de novo, os protestos fecharam a Santa Fé com a Callao, na frente da livraria Ateneo onde nós estávamos. E agora na volta pra casa a Cabildo também está fechada por protestos, na altura da Juramento. São 2 pontos importantes da cidade, o trânsito está um nó, e a barulheira em alguns lugares é infernal (pelas panelas e pelas buzinas, dos carros protestando e dos que estão parados). 

Mas na verdade a sensação que eu tenho, um pouco de fora, é que as pessoas estão apoiando a causa menos pelos ruralistas e mais por oposição à Cristina e à maneira como ela lida com a crise. E também por um certo gosto. Desde que a gente chegou aqui não teve uma vez que eu tenha ido à Casa Rosada e que não estivesse rolando um protesto, por qualquer causa. Juntou o espírito contestador argentino com a falta de comida nos mercados, aumento de impostos e uma presidenta não lá muito querida e deu panelaço. Que pelo jeito ainda vai durar um bom tempo...