Valencia: o Mediterrâneo, as Fallas e a Paella

domingo, 22 de março de 2009

Semana passada fomos conhecer a maior festa da região de Valencia, as Fallas, uma manifestação popular quase tão importante quanto o carnaval no Rio. A comemoração acontece na época do feriado de San José (19/03), que esse ano caiu numa quinta-feira, o que significou 4 dias pra conhecer o lugar.

Cada vez que eu viajo pela Espanha descubro o quão ignorante ainda sou sobre o país. Por exemplo, eu não sabia que em Valencia eles tinham um idioma próprio (além do castellano), o Valencià. Superficialmente falando, parece uma mistura de castelhano e francês, lembrando muito o catalão, só que bem mais compreensível. Viajando e aprendendo!















O Valencià Uma atualização: segundo minha amiga catalã, o Valencià e o catalão são praticamente a mesma língua, com pouquíssimas diferenças. Os valencianos odeiam que se diga isso. De qualquer maneira, rebati dizendo que o valenciano eu entendia, enquanto o catalão era grego pra mim. Mas ela argumentou que quando fui à Catalunya eu falava menos espanhol e isso pode fazer muita diferença na hora de entender. Faz sentido...

Valencia é uma cidade pequena, simples e bonita. Assim como quase todas as outras cidades espanholas que visitamos tem um centro histórico de ruazinhas apertadas e construções de muitos séculos atrás, uma parte nova onde eles contruíram a ultra-modernosa Cidade das Artes e das Ciências e (aqui vem o diferencial) a praia. Ou seja, você pode acordar de manhã e ir à praia, visitar o oceanário na cidade da ciência, pegar um cineminha numa das muitas salas do complexo UGC e terminar o dia tomando uma cerveja ou um sorvete nas ruas do centro histórico. Dia perfeito! Por essas e outras Valencia entrou na lista de possíveis lugares para morar.




























Meus programas favoritos: praia e oceanário!

Outras atrações, especialmente interessantes pra quem gosta de comer, são o porto e o mercado. São dois dos poucos lugares onde você consegue comer uma verdadeira Paella Valenciana e não as de microondas que a maioria dos restaurantes vende (e caro) por lá. Aliás, sobre a famosa Paella um esclarecimento: a versão mais conhecida no Brasil, a de frutos-do-mar, é uma variação da original, que no começo só levava coelho e frango. Muito depois eles acrescentaram o porco (alguns o pato também) e atualmente é essa combinação que caracteriza a Paella de Valencia. A de frutos-do-mar, minha preferida, é chamada de paella mista e dela se originou um outro prato, chamado Fideuá, que leva macarroezinhos pequenos ao invés de arroz. Esse também é bem comum por aqui, só que tem um nome diferente em cada região (nem sei como se chama aqui em Madri).

No porto não deu tempo da gente ir, mas o mercado municipal é maravilhoso. Tem uma variedade imensa de frutas, queijos, conservas e claro, presuntos. Pra quem gosta de comida é um programa pra manhã inteira.

Outras comidas típicas da região: a orxata (horchata, en castellano, uma bebida típica feita com um tubérculo chamado chufa, que eu nunca vi. Fica da cor do leite. Eu não gosto, mas o pessoal aqui em casa adora) e o farton, um paozinho mais seco que eles molham na horchata ou no chocolate (nunca vi tantas "xocolaterías" por metro quadrado). Os churros estão por toda parte e lá eles também têm versões recheadas e com cobertura. Mas o mais típico do lugar é o bunyol, um bolinho frito de abóbora, doce, abundante na época das Fallas.





























Acima, o Mercado. Abaixo, comendo farton na Cidade das Artes e das Ciências

Falando nelas, voltamos ao motivo principal da nossa viagem. No começo eu não conseguia enteder muito sobre o que era essa festa, toda explicação que eu recebia terminava em "sabe os carros das escolas de samba no Brasil? Então, é igual, só que parados". Ahhh, que bom, agora eu sei o que tem na festa, só continuo sem saber o porquê...

Mas de fato a festa é muito complexa, mistura temas religiosos, conotações políticas e tradições pagãs, entre outras coisas. Basicamente ela é composta de muitas queimas de fogos durante todo o mês e várias pequenas celebrações, como desfiles, oferendas, etc. As fallas propriamente ditas são as esculturas, feitas de carvão e isopor e baseadas em temas cotidianos ou atuais, que são montadas em vários pontos da cidade e no final da festa são queimadas. O ponto alto acontece entre os dias 15 e 19/3, com as mascletás (queima de fogo), a la Nit de Foc (ou Noite do Fogo, grande queima de fogos do dia 18) e a Cremá (queima) final. Descobri várias explicações diferentes pra festa, as duas que eu mais gosto são essas: ela teria começado com uma tradição de carpinteiros que construíam esculturas com o que sobrava dos seus trabalhos e no dia 19/3, dia de São José, queimavam essas peças em praça pública como homenagem ao santo ou que na verdade a queima das esculturas é um resquício das comemorações do equinócio da primavera (que é dia 20/3, a queima é realizada exatamente à 0h desse dia) quando se armavam grandes fogueiras pra queimar o "mal" e celebrar a prosperidade e a fertilidade. Seja qual for a razão, a festa é linda.
















A falla principal na Plaza del Ayuntamiento, antes e depois.


2 comentários:

Marcelinha disse...

Ai, me mooooooorro de saudades do Fideuá! Jesus, como pode ser tão bom?

NVFilho disse...

Olá... Chufas - é a nossa "Tiririca" brasileira, acreditem... ela tem um pequeno bulbo em seu caule, que contém a seiva que misturada ao leite e outros ingredientes se tornará na deliciosa orchata.